Abandonar livros: é só dizendo não que aceitamos os nãos que dizem para nós

Você abandona livros? Eu não. Ou pelo menos eu achava que não, até que precisei fazer uma limpeza na cabeceira da minha cama, onde uma montanha de páginas se acumulava, e constatei que alguns já haviam sido abandonados. Não como uma decisão tomada do tipo "não estou gostando, vou parar de ler", mas...

Supersônica: cega por erro médico, Maria começou a produzir audiolivros

Imagine se você perdesse de repente o que você mais gosta. Bem, não de repente, mas no intervalo de dois meses. Um dia você é uma garota de treze anos que vai à escola, em outro você está cega. Sua escola e seus amigos têm muita dificuldade de se adaptar e te oferecer o melhor para a sua nova...

Minha história com Luiz Taliberti, um dos 272 mortos em Brumadinho

Eu a vejo e meu corpo é percorrido pelo contrário de um calafrio, porque é quente. Um reconhecimento imediato, a familiaridade que junta o presente com o passado, mesmo um passado que nunca existiu, pois é a primeira vez que tenho Helena Taliberti diante de mim. Sua beleza salta, chega antes dela,...

Sobre a Enel e a falta de luz: quando o futuro se parece com o passado

Se você está lendo este texto, a luz provavelmente está funcionando na sua casa. Você nem sequer está pensando na corrente elétrica que entra pelos fios e faz funcionar internet, ventilador, portão, chuveiro e geladeira e da qual só percebe depender tanto quando falta.

'Eu sou meu centro': em poemas, Bruna Mitrano mostra o que ninguém quis ver

"Ninguém Quis Ver": a denúncia é o título da coletânea de poemas de Bruna Mitrano lançada recentemente pela Companhia das Letras. Ninguém quis ver, mas ela mostra. Seus versos se embrenham para o lugar de onde os olhos do mundo desviam: para a periferia, para a neurodivergência, para o abuso, a...

Genocídio versus genocídio: alguns dos problemas da fatídica fala de Lula

Pela primeira vez uso maiúsculas, desde que comecei a escrever colunas: HÁ UM GENOCÍDIO EM CURSO EM GAZA. Mais de 29 mil pessoas foram mortas, muitas delas crianças, e outras milhares foram gravemente feridas. Eu não relativizo esse genocídio. Um cessar-fogo é urgente, prioritário, vou ser...

Se encontrar sua psiquiatra no bloquinho: sorrir, cumprimentar ou fugir?

Ela está ali, na sua frente, fantasiada, provavelmente bêbada: a pessoa que sabe de boa parte dos seus segredos. Do vasto catálogo das possibilidades, três reações se apresentam a você: ostentar o seu melhor sorriso malandro e assim instaurar alguma cumplicidade carnavalesca; fingir normalidade;...

O Beira-Rio histórico das mulheres: a punição do Inter que virou festa

Um mundo só de mulheres já existe na ficção. Em "A Segunda Mãe", de Karin Hueck, lançado recentemente pela editora Todavia, os homens não participam do cotidiano. Mas trata-se de uma distopia, da invenção de um mundo estranho e bizarro, ainda que diga tanto sobre o nosso.

Anatomia da queda masculina: não sabemos que homem queremos para o futuro

Eu, que sempre escrevo em silêncio, ou que prefiro escrever em silêncio mas escrevo como dá, opto por teclar estas palavras ouvindo repetidamente a versão instrumental de "P.I.M.P." nos fones de ouvido, enquanto meus filhos veem TV atrás de mim. Quem já viu o perturbador e magnético "Anatomia de...

Beleza só existe porque acaba: Liv Strömquist e seu 'Na Sala dos Espelhos'

"Parece que nós, seres humanos, estamos cada vez piores em lidar com a efemeridade da beleza física. Talvez seja porque vivemos numa economia capitalista, em que pensamos que tudo é — ou precisa ser — uma curva eternamente ascendente." Impossível não concordar com a socióloga e quadrinista sueca...

A nudez que experimentamos no amor: uma entrevista com a poeta Mar Becker

A poesia brasileira contemporânea tem ocupado as mãos, as vozes, as prateleiras, os festivais. Diversa, múltipla, tem nos devolvido o mundo e o tempo que é nosso, mas que anda capturado pelas telas — e nos devolve às vezes por meio da própria tela.

Amor e poder: Sofia Coppola põe Priscilla Presley enfim sob os holofotes

O que vale o amor? Quanto você daria de sua vida e dos seus sonhos para viver uma grande história de amor? E se você fosse ainda uma garota de 14 anos que já havia precisado deixar seu país, seus amigos e sonhos e esse grande amor fosse simplesmente Elvis Presley?

Ataques virtuais também matam, usando apenas dedos que digitam e clicam

Este não é um texto sobre guerras. Não é um texto sobre guerras, mas é um texto sobre a violência. Uma violência bem mais próxima, cotidiana, em que se pode destruir uma pessoa sem sujar as mãos, usando apenas os dedos, que digitam e clicam. Uma violência que serve ao poder inumano do algoritmo,...

Solidão de ano-novo: ninguém é obrigado a se sentir feliz

No rádio, uma entrevista com dicas sobre como enfrentar a difícil solidão do fim do ano. O post de uma amiga psiquiatra, seu rosto nitidamente cansado, em cuja legenda se lê algo como "filtro maravilhoso que se chama 'psiquiatra no mês de dezembro'". As demandas do meu próprio consultório mais...